quarta-feira, 27 de abril de 2011

Segunda via de sofrimento

Estamos caminhando e refletindo sobre a “Espiritualidade do Sofrimento”, tendo como pano de fundo a espiritualidade dos três Pastorinhos de Fátima

No último post vimos a primeira via de sofrimentos qeu consciste naqueles sacrifícios que podemos oferecer a Deus e desagravo e consolo aos corações de Jesus e Maria. Já na segunda via, julgo eu, ser a mais difícil, pois não a escolhemos, mas é o próprio Deus que nos seus mistérios insondáveis, nos permiti passar pelo fogo do sofrimento a fim de demonstrar seu profundo amor por nós, sendo Ele o primeiro a aceitar o desafio da reparação através da cruz, cujo nenhum de nós foi poupado. Por tanto, os sofrimentos que os Pastorinhos enfrentaram permitidos por Deus, tal como Nossa Senhora havia predito na aparição, deve ser entendido como uma forma de espiritualidade, uma via eficaz que possibilita a alma vislumbrar o Céu.  “Ides, pois, ter muito que sofrer…” (Memórias da Ir. Lúcia)
Penso ter sido um dos momentos mais sofridos da vida dos Pastorinhos, o episódio do dia 13 de Agosto, um imprevisto, que tardou a aparição de Nossa Senhora para dia 19. O administrador Artur de Oliveira Santos, retém os Pastorinhos presos durante três dias, ora em sua casa, ora na cadeia municipal.
Era dia 13 de Agosto de 1917, quarta aparição. Estavam os Pastorinhos presos durante todo aquele dia…
“À Jacinta, o que mais lhe custava era o abandono dos pais; e dizia, com as lágrimas a correrem pela face:
- Nem os teus pais nem os meus nos vieram ver. Não se importam mais de nós!
- Não chores, disse-lhe Francisco. Oferecemos a Jesus, pelos pecadores.
E levantando os olhos e as mãozitas para o Céu, fez ele o oferecimento: Ó meu Jesus, é por Vosso amor e pela conversão dos pecadores.
A Jacinta acrescentou: É também pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.
É impressionante a atitude dos Pastorinhos. Para Francisco o que mais o contristava era o fato da possibilidade de Nossa Senhora nunca mais lhes aparecer. Quanto a Jacinta, chorava com saudades da mãe e da família, porém, Francisco tentava animá-la dizendo: “A mãe, se não tornamos a ver, paciência! Oferecemos pela conversão dos pecadores. O pior é se Nossa Senhora não volta mais! Isso é o que mais me custa! Mas também o ofereço pelos pecadores”. (Memórias da Ir. Lúcia)
Certamente, as pequenas crianças de Fátima não desejaram passar por este sofrimento, e nem mesmo escolheram está via por falta de opção, mas ao contrário, aceitaram de muita boa vontade como um bom soldado de Cristo à todos sofrimentos que lhes bateram a porta, e mesmo em grau de perigo. “Assume o teu quinhão de sofrimento como um bom soldado de Cristo Jesus” (II Timóteo 2,3). Eles foram capazes de dialogar com o mundo dos sentimentos, e agindo com consciência e maturidade no mundo espiritual, deram uma resposta heróica diante de Deus. Porém, mal sabiam eles que os sofrimentos de que falava Nossa Senhora eram semelhantes com certas torturas que costumamos ver em campos de concentração.
Para arrancar o segredo dos Pastorinhos, o Administrador, Artur de Oliveira Santos, não poupou esforços. Começou por lhes oferecer presentes e lhes fazer as mais lisonjeiras promessas. Mas os Pastorinhos por sua vez não se amoleceram. Então o administrador mandou seus guardas prepararem uma caldeira de azeite a ferver para os fritarem vivos, caso não quisessem revelar o segredo.
A primeira a ser provada foi Jacinta. Aparece um guarda com voz ameaçadora e grita: “Ou dizes o segredo, ou morres!
Como a pequena Jacinta responde “não”,
o guarda arrasta-a atrás de si.
Foi imediatamente sem se despedir de nós. Enquanto a interrogavam, o Francisco dizia-me com imensa paz e alegria:
Se nos matarem, como dizem, daqui a pouco estaremos no Céu! Mas que bom! Não me importa nada”.
Depois de alguns segundos, Francisco acrescenta: “Deus queira que a Jacinta não tenha medo. Vou rezar uma Ave-Maria por ela!”.
Como Francisco e a Lúcia responderam com a mesma heróica coragem, são ambos condenados à morte e lá vão corajosos, ao seu encontro.
Mas veja, não passava de uma maldosa façanha, de um cruel julgamento. Depois de ter fracassado com infrutíferas tentativas de lhes tirar o segredo, o Administrador reconduz então a Fátima os três Pastorinhos, na tarde do dia 15 de Agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora, tendo então Maria, voltado a aparecer no dia 19, Domingo.
A heroicidade dos Pastorinhos, sem dúvida, é autêntica, simplesmente pelo grande desejo de consolar e reparar os Corações de Jesus e de Maria, mas, sobretudo, no profundo anseio de ver a conversão dos pecadores, e a salvação das pobres almas agonizantes na visão do inferno. “Nenhum sacrifício é mais agradável a Deus do que o zelo pela salvação dos homens…” E também: “O valor do mundo inteiro não se pode comparar com o valor de uma só alma” (S. Gregório Magno). Por isso, que cada sacrifício oferecido a Deus, seja ele voluntário ou involuntário, enviado por Deus ou não, tem o seu sentido único na Cruz de Cristo, lugar da redenção de todo homem. As virtudes dos Pastorinhos de Fátima não tiveram a finalidade de santificar apenas a eles próprios, mas sobre tudo, demonstraram uma profunda preocupação com as pobres almas sofredoras. A missão dos pastorinhos era justamente ajudar “salvar a todos”. “… ficai sabendo que quem reconduzir um pecador do caminho em que se extraviava lhe salvará a vida e fará desaparecer uma multidão de pecados”. (Tiago 5, 20)
Estar aberto a esta via de sofrimento e aceitá-la como benfício espiritual para nossa conversão e para a conversão de outros exige de nós muita intimidade com o cruxificado. Somente na intimidade com Cristo é possível enxergar que a cruz oferecida por Deus tem meritos de ressurreição, nisso precisamos crescer e buscar a cada dia, pois sem esta visão o sofrimento passa a tornar nossa cruz mais pesada que podemos carregar.
Marcelo Pereira

Nenhum comentário: