quarta-feira, 27 de abril de 2011

Duas vias de sofrimento dos Pastorinhos

Duas vias de sofrimento dos Pastorinhos

Existem vários tipos de sofrimento que poderíamos enumerar, porém é possível classificar na espiritualidade dos Pastorinhos duas vias de sofrimentos com virtudes de santidade.
A primeira via são os sofrimentos que eu posso oferecer a Deus voluntariamente através das práticas de piedade, “sacrifícios e penitências”. É espontâneo, é um ato que nasce da convicção do nosso amor para com Deus.
Já a segunda via, são representadas por aqueles sofrimentos que Deus nos envia segundo os seus desígnios com uma única finalidade de purificar a nossa alma. Ele sendo Deus e autor de todo bem, sabe tirar proveito até mesmo das conseqüências que o pecado original deixou em nós, permitindo-nos passar pelo fogo do sofrimento a fim de purificar o ouro “nossa alma”, até que estejamos em condições de refletir Jesus em nossa própria face. É uma via que caminha sobre o mistério da dor, mas que tem resultado de graças no seu percurso final. São dois caminhos distintos, mas intimamente ligados um no outro, com capacidade de dialogar com a virtude da sabedoria que nasce da humildade do coração dos três Pastorinhos que souberam administrar com maturidade os seus sofrimentos.
Vamos começar por conhecer alguns dos sacrifícios com características de sofrimento que os Pastorinhos ofereceram a Deus voluntariamente em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores. São sofrimentos que partiram da iniciativa deles próprios, com um profundo sentimento de consolar os Corações e de Maria transpassados pela espada do pecado de toda humanidade.
Vejamos alguns exemplos que caracterizam esta primeira via.
Por vezes, os Pastorinhos não comiam a merenda, que era a sua refeição do meio-dia, para distribuírem primeiro às ovelhas e depois aos pobrezinhos, dizia o Francisco. “… demos a nossa merenda às ovelhas e fazemos o sacrifício de não merendar”. Deixavam muitas vezes de comer os figos e as uvas apetitosas que muitas vezes sua mãe lhes trazia enquanto brincavam. Jacinta, que nunca se esquecia dos pobres pecadores, disse: “Não os comemos – dizia ela – e oferecemos este sacrifício pelos pecadores”. Depois, saíam pela rua a levar as uvas apetitosas para as crianças que brincavam. Os Pastorinhos tinham costume de durante o tempo que cuidavam do rebanho se alimentarem das bolotas de Azinheira, uma árvore muito típica em Portugal. Um certo dia, a pequena Jacinta está a reclamar de muita fome, Francisco logo subiu a arvorezinha para encher os bolsos, mas Jacinta logo se atina que, recordando dos pobres pecadores, sugere a Francisco, trocar as bolotas da Azinheira pelas dos Carvalhos, que são extremamente amargas. Isso, só para oferecer como sacrifício pelos pecadores. Faziam habitualmente este sacrifício. Um dia Lúcia questiona dizendo: “Jacinta, não comas isso, que amarga muito”. E ela responde: “Pois é por ser amarga que eu como, para converter os pecadores”. Tinham também por costume de vez em quando, oferecer a Deus o sacrifício de passar uma novena sem beber água, e fizeram isso uma vez durante um mês inteiro em pleno verão em que o calor é sufocante. Certa vez, quando estavam a rezar o Terço na Cova de Iria e Jacinta sofria uma terrível dor de cabeça por causa da sede que sentia. Havia ali perto uma lagoa, onde várias pessoas lavavam roupas sujas e os animais iam beber água e banhar-se. Jacinta inclinou-se para beber daquela água, mas Lúcia interveio dizendo; “Desta não!” e sugeriu andar mais um pouquinho, a pedir sua Tia Maria dos Anjos, mas Jacinta responde: “Não! Dessa água boa não quero. Bebia desta, porque, em vez de oferecer a Nosso Senhor a sede, oferecia-lhe o sacrifício de beber desta água suja”. E acrescentou: “Nosso Senhor deve estar contente com os nossos sacrifícios, porque eu tenho tanta, tanta sede! Mas não quero beber; quero sofrer por seu amor”. Trazia ainda na cintura, uma corda e batiam com urtigas nas pernas. Francisco levou tão a sério, que além de passar o dia com a corda amarrada na cintura, dormia também com ela. Era tão forte este sacrifício que, Nossa Senhora, na aparição de Setembro, pede que Francisco modere este sacrifício. “Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.” (Memórias da Ir. Lúcia)
Até os cantos dos grilos e das cigarras que atormentavam a pequena Jacinta, debilitada pela sede e pela dor de cabeça, foram oferecidos em sacrifícios pelos pecadores. Lúcia um dia, apanhava severamente de sua mãe, com um cabo de vassoura, pois tinha sido acusada injustamente, de ter escondido um dinheiro que na verdade, ela nem recebera. Sua irmã Carolina, que foi testemunha de que Lúcia era realmente inocente, aliviou-a de maiores sofrimentos, mas que por sua vez não desperdiçou a oportunidade de também oferecer este sofrimento ao bom Deus.
Deixavam os divertimentos mundanos, tais como os bailes só para ter motivos de oferecer algum sacrifício a Deus. Passavam horas seguidas com a cabeça no chão, repetindo as orações que o Anjo havia ensinado.  “Havia no nosso lugar uma mulher que nos insultava sempre que nos encontrava – conta Lúcia. Encontrámo-la um dia quando saía duma taberna, e a pobre, como não estava em si, não se contentou dessa vez só com insultar-nos. Jacinta diz-me: – Temos que pedir a Nosso Senhor e oferecer-lhe sacrifícios pela conversão desta mulher. Diz tantos pecados que, se não se confessa, vai para o inferno.
Passados alguns dias corríamos em frente da porta da casa desta mulher. De repente, a Jacinta pára no meio da sua carreira e, voltando-se para trás, pergunta:
- Olha, é amanhã que vamos ver aquela Senhora?
- É, sim.
- Então não brinquemos mais. Fazemos este sacrifício pela conversão dos pecadores.
E sem pensar que alguém a podia ver, levanta as mãozinhas e os olhos ao céu e faz o oferecimento. A mulherzinha espreitava por um postigo (pequena porta) da casa. E depois, dizia ela à minha mãe que a tinha impressionado tanto aquela ação da Jacinta que não necessitava de outra prova para crer na realidade dos fatos. E daí para o futuro não só nos não insultava, mas pedia-nos continuamente para pedirmos por ela a Nossa Senhora que lhe perdoasse os seus pecados. Eis uma conversão devida aos sacrifícios dos Pastorinhos, sobretudo da Jacinta”.
Esses foram alguns dos exemplos que confirmaram a santidade dos Pastorinhos. “A penitência impele o pecador a suportar tudo de boa vontade” (Cat 1450). Para os Pastorinhos, o que importava era consolar os Corações de Jesus e de Maria, tão ofendidos pelos pecados da humanidade, tudo lhes podia ser útil para transformar-se em sacrifício, o prazer do paladar, os divertimentos e descansos, até mesmo, sacrificar o próprio corpo para consolar a Deus. Tudo isso, com muito boa vontade, sem reclamações ou exibições, com profunda devoção e seriedade.
Para que não se prolongue muito a leitura deste tema, no proxímo post vamos conhecer a segunda via, porém é muito importante que você assimile bem esta via para dar continuídade no tema principal que é a “Espiritualidade do Sofrimento”.
Peço que Nossa Senhora nos ajude na compreenção deste caminho que estamos fazendo sobre a espiritualidade de Fátima, pois ela mesma quis que todos nós tivessemos o conhecimento desta via que por ela os Pastorinhos passaram para chegar ao Céu.
Salve Maria!
Marcelo Pereira

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