quarta-feira, 2 de março de 2011

Ato de reparação

“Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?” (Memórias da Ir. Lúcia)
Dando seqüência a nossa reflexão a respeito da espiritualidade do sofrimento podemos começar por afirmar que a “reparação” e a “súplica” é o objetivo principal do pedido de Nossa Senhora em Fátima, porém não é a única finalidade pela qual devemos sofrer. Deus não se limitou a isso, até porque não permitiria a existência do sofrimento se dele não tirasse algo bom, e com esta capacidade Ele introduz aos nossos sofrimentos outros valores que o tornam ainda mais precioso.

No decorrer das aparições em Fátima, Maria vai meio que em conta-gotas revelando o objetivo de suas mensagens sendo que em Julho, na terceira aparição, depois da visão do inferno em que é mergulhado os Pastorinhos, Maria lhes revela um objetivo ainda mais necessário a alcançar através da oração e da reparação. “Para impedir a guerra, virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados”. (Memórias da Ir. Lúcia)
A consagração da Rússia junto à devoção ao Imaculado Coração de Maria e a Reparação dos Cinco Primeiros Sábados vai ser a grande motivação dos Pastorinhos que se entregaram totalmente a esta finalidade. Sobre isso veremos mais a frente, porém é importante aqui entendermos primeiro o significado da palavra reparação.

No dicionário a palavra reparação significa ato ou efeito de reparar-se ou reparar algo. Repare que a palavra “reparar-se” está na primeira pessoa, portanto, a mim cabe está função de reparação que também se entende por restauração que é devolver ao outro o direito da sua integridade original que de alguma forma eu denegri. Repara ainda significa indenização ou ressarcimento de algo que eu roubei do outro. Todo pecado gera conseqüências tanto para mim quanto para o outro, e estas conseqüências muitas vezes arranca lascas nas pessoas que estão próximas de nós. Por exemplo, quando falamos mal de uma pessoa, roubamos o direito da sua boa imagem, por mais que ela tenha errado, não temos o direito de roubar a sua boa imagem porque esta pessoa não é totalmente má, e certamente o mau que ela acaba fazendo no fundo não corresponde ao bem que ela foi por finalidade de criação destinada a fazer. Então, devemos ter uma consciência mais ampla do ser humano para julgá-lo e condená-lo, pois podemos estar arrancado pedaços da pessoa que vai exigir de nós uma atitude reparadora, que é a indenização e o ressarcimento dos direitos do outro. Pecar tem um custo muito alto para nós, pois reparar, indenizar ou ressarcir uma pessoa pelo mau que eu tenha cometido contra ela na maioria das vezes é muito mais difícil do que a dificuldade de ter evitado o mau que fiz contra ela.
Agora veja, vamos trazer isso para a primeira pessoa, quanto ao nosso pecado, não é somente ao outro que atingimos com o mal cometido, atingimos ainda outra dimensão que poucos que poucas vezes temos nos importado. Trata-se de uma dimensão espiritual. Todo pecado de qualquer gênero ou de qualquer dimensão tem conseqüências diretas ao coração de Deus, pois todo pecado é uma ofensa à desobediência contra o amor de Deus, razão pela qual tudo e todos nós fomos criados.

Foi por amor que Deus nos criou e foi através do amor que Cristo reparou e expiou toda ofensa contra o coração do Pai no sacrifício da cruz. “Ele nos conheceu e amou na oferenda da sua vida” Cat 616 Na Cruz de Cristo, não só realizou-se a Redenção através dos sofrimentos, mas também o próprio sofrimento humano foi redimido”.
Jesus foi o primeiro a fazer um ato de reparação, não pelo seu próprio pecado, pois Jesus não cometeu pecado sobre a terra, mas Ele sacrificou-se por nós, pelos nossos pecados, ressarciu a Deus por nós, pagou a divida que tínhamos perante Deus, e através do sacrifício da cruz reparou toda ofensa contra o coração de Deus.

No Catecismo da Igreja Católica diz assim: “A Reparação quer nos levar a uma plena saúde espiritual, é mais do que apenas confessar os nossos pecados, vai além do arrependimento, é concretamente um ato penitente após a confissão.” Por isso, é corretíssimo que o Padre indique uma penitência ao pecador, como forma de também reparar as conseqüências geradas pelo mal que cometerá, independente do grau que foi o pecado. Diz ainda o Catecismo: Muitos pecados prejudicam o próximo. É preciso fazer o possível para reparar este mal (por exemplo: restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi caluniado, compensar as ofensas e injúrias). A simples justiça exige isso, mas, além disso o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, como também sua relação com Deus e com o próximo. Absolvição tira o pecado, mas não remedia todas as desordens que ele causou. Liberto do pecado o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual, deve, portanto fazer alguma coisa a mais para reparar os seus pecados.” (Cat. 1459).
Este foi o caso de Zaqueu, depois de ter recebido em sua casa o Senhor da Misericórdia, “Jesus de Nazaré”, arrependido dos seus pecados, Zaqueu, faz em poucos segundos, uma rápida contabilidade da sua vida errônea, e então diante do Senhor ele mesmo determina a sua reparação: “vou repartir a metade de meus bens aos pobres e darei o quádruplo àqueles que prejudiquei.” (cf. Lc 19, 1-10). “Toda falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparação, mesmo que o seu autor tenha sido perdoado”. Cat. 2487

Não basta o perdão e a absolvição ao confessar nossos pecados, é preciso do ato de reparação para ser plena a nossa conversão. Quero me aprofundar um pouco mais neste sentido, mas para o texto não ficar muito extenso, vamos fazer uma pausa aqui para ruminarmos durante esta semana o que acabamos de refletir sobre a reparação.
Que Deus te abençoe e desperte em você o mesmo amor que motivou a Jesus a oferecer a sua vida na cruz por amor a Deus, em reparação as ofensas com que Ele é ofendido.
Santa Maria rogai por nós!

Marcelo Pereira

Qual o sentido do sofrimento?

Estamos trilhando pela via da “Espiritualidade do Sofrimento”. Vimos no primeiro post através do documento de João Paulo II (O sentido cristão do sofrimento humano), que os nossos sofrimentos não são em vão, eles não acontecem por acaso do destino, há um sentido para este interminável sentimento que chamamos de “sofrimento”, mas tudo depende da maneira com que eu o encaro cada sofrimento que a cada dia bate em minha porta.

No segundo post refletimos sobre a espiritualidade de Fátima que traz em si uma significante resposta que também dá sentido ao sofrimento humano e que por meio dos três Pastorinhos de Fátima, ficou assim instituído como via de santidade.
Eu prometi que voltaria tocar neste assunto e que quero agora junto com você aprofundar um pouco mais nesta virtude escondida por de trás do sofrimento.

Na primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima, ela pergunta aos Pastorinhos; “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?” (Memórias da Ir. Lúcia)
A palavra mais imponente aqui no pedido de Nossa Senhora é a palavra “sofrimento”, que já refletimos sobre a sua importância no post anterior. O segundo destaque vai para “pessoa”, para quem é destinado o pedido. Também já estudamos sobre isso um pouco atrás quando entendemos que o pedido se destina na primeira pessoa, ou seja “EU”.

O terceiro destaque neste pedido de Nossa Senhora vai para quem está fazendo o pedido. Nossa Senhora aqui é apenas uma mensageira, pois é Deus que a envia em missão sobre a terra para pedir por meio dos pequenos Pastorinhos que aceitem todos os sofrimento que Ele (Deus) quiser enviar-lhes.
Então veja bem, o pedido vem de Deus e o tipo de sofrimento também fica por conta D`Ele. Coube aos Pastorinhos apenas dizer que sim ou que não, ao que eles disseram “SIM QUEREMOS”. A partir daí, nasce no coração de Francisco, Jacinta e Lúcia o desejo de corresponder ao pedido de Deus de uma forma lucidamente concreta.
O quarto e último ponto significativo e que vai dar todo um sentido para esta reflexão sobre a espiritualidade do sofrimento é o para que devemos aceitar o sofrimento, a que ela responde; “em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”
Está é a finalidade pela qual devemos aceitar de boa vontade todo e qualquer sofrimento que bater em nossa porta, há uma forma de reciclarmos o sofrimento e transformá-lo em conteúdo de reparação pelos pecados com que Ele “JESUS” é ofendido e de suplica pela conversão dos pecadores. Aqui reside o sentido pelo qual sofremos.

O que acontece é que ficamos cegos diante da dor que o sofrimento nos causa que perdemos a visão espiritual e a mística que se esconde atrás da cortina do sofrimento.
Porém, nós enxergando ou não, esta mística existe, esta espiritualidade é real e que graças aos Pastorinhos de Fátima, este véu também já foi rasgado, não é mais obscuro perceber que caminhar sobre a cruz do sofrimento com esta consciência de reparação e de oferecimento, pode tornar leve nosso calvário, e menos doloroso também, além de poder utilizar aquilo que para nós é desprezível, no caso o “sofrimento”, em remédio de consolo para o Coração de Jesus muito ofendido por todos os pecados da humanidade.
Pode parecer um absurdo, mas é isso mesmo que você esta entendendo. Os nossos sofrimentos podem ser útil para Deus. Pode servir de remédio e de consolo ao Nosso Senhor Jesus Cristo, basta apenas oferecermos a Deus, canalizarmos para isso.

No próximo post quero lhes apresentar as duas vias com que os Pastorinhos intitularam como espiritualidade do sofrimento e que por meio delas chegaram ao Céu.
O importante hoje é perceber que Deus estende este pedido também a nós; “Quereis também vós oferecer-vos a Mim, para suportar todos os sofrimentos que Eu quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que meu Filho é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”

A resposta é pessoal, e temos que responder apenas que sim ou que não. É certo que a nossa resposta será de acordo com a nossa intimidade com Deus, sem olhar para a Cruz de Cristo, e sem o despojamento de um coração pobre e humilde, de fato será difícil enxergar qualquer sentido em nossos sofrimentos. Mas estou certo que Maria também vai nos ajudar a retirar as escamas do mundo material, da prepotência, do nosso orgulho, do nosso pecado que nos cegam os olhos da fé, e com teu auxilio ó mãe, poderemos também nós alcançar o Céu por termos escolhido fazer a vontade de Deus mesmo que se essa vontade seja abraçar a nossa própria cruz.

Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós
Marcelo Pereira