sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Temperança, quarta virtude Cardinais

A temperança é a virtude da medida certa, que modela a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Para adquiri-la é necessário que eu reconheça a minha medida e os meus limites, devo reconhecer do que sou capaz e quais sãos as minhas habilidades.

Para isso é preciso ir até o limite da nossa capacidade. É certo que hora ela poderá passar da medida e até extrapolar, e hora ela poderá ficar apenas na superfície e nem se quer provar do sabor da medida certa, tudo depende do domínio que a temos sobre a nossa vontade e o impulso do nosso instinto.

A temperança é como uma bússola que harmoniza e mantém os nossos desejos dentro dos limites da honestidade.

Em grego, tal virtude significa sensatez que ordena (phrosyne). Já os espanhóis a chamam de“temperare”, e que lembra “tempero no ponto certo”, que significa ordenar de modo adequado, unir, refrear, resguardar-se.

Jesus na cerimônia do “lava-pés” nos ensina a medida certa no servir; “se, pois eu o Senhor e Mestre vos lavaram os pés, vós devereis também vos lavar os pés uns dos outros”. João 13,14

E quando se trata de amar, a medida certa é o próprio Jesus; “Como eu vos amei, vos também, amai-vos uns aos outros”. João 13,34

Paulo também se aplica viver de modo ordenado refreando as paixões e buscando o seu equilíbrio na medida do Espírito Santo. Para ele é o Espírito Santo que dá ao homem o equilíbrio necessário para viver sem excesso e sem desmedida.

Quem não vive de acordo com a sua medida, adoece, se stressa e vive sobrecarregado de tensões e amargor. Ao mesmo tempo, buscar a medida certa nos disciplina do comodismo, do medo, da falta de audácia de arriscar diante de um desafio e das situações difíceis do nosso dia a dia.

Ultrapassar a medida não é o ponto certo, mas já é um bom começo, pois é sinal que passei por ela “pela medida certa”, agora é retornar e trabalhar para se estabilizar nela. É melhor do que ficar estancado no ponto de partida. Daí é que vem a temperança, pois de tanto tentar acertar vamos criando tempera até adquirir um equilíbrio estável. Só assim vou saber do que sou capaz e quais são os limites das minhas próprias medidas.

O objetivo desta virtude é trazer serenidade para a nossa alma, equilíbrio interno, é estar em harmonia comigo mesmo.

Maria foi adquirindo equilíbrio na medida em que ela ia se lançando nos braços de Deus, nos desígnios de Deus. Para ela, a sua medida era o próprio Deus, o que conta e faz a diferença é à medida que Deus escolheu para nós.

A cada um de nós há uma medida certa escolhida por Deus, mas nós podemos olhar para Maria que é a“Forma Dei”, que, segundo São Luís Grignion de Montfort, Maria tem em si a forma certa pela qual Deus que é a medida certa foi gerado. Podemos usar Maria como medida para descobrirmos a nossa própria medida.

Lembre-se, que um caminho de mudança pessoal exige conhecer a nossa própria história e as nossas tendências, a fim de desfrutarmos das nossas capacidades sem exceder os nossos limites. A temperança pode nos ajudar aprimorar este caminho. Aproveite!

Deus abençoe você!

Com carinho Marcelo Pereira

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Prudência, segunda virtude Cardinais

No artigo anterior vimos a JUSTIÇA como a primeira virtude cardinal. Hoje vamos entender qual é a virtude que se assemelha a inteligência do coração.
A PRUDÊNCIA é uma maneira prática que através da razão é capaz de discernir em qualquer circunstância nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo. Cat 1806
São Tomás de Aquino associa a prudência com a palavra providência. Já em alemão a palavra prudente “KLUG” significa fino, delicado, gracioso, culto, desenvolto, corajoso e efusivo.

Ser prudente também é ser inteligente. São Tomas de Aquino dizia que a prudência sempre pressupõe o reconhecimento do bem. Excede o simples saber e encontra-se sempre ligada a ação. Não é uma questão de saber ou de ter conhecimento aguçado, mas é uma inteligência que apura e reconhece a realidade de forma correta, para, a partir deste princípio saber como agir. A prudência é o modo necessário para que a nossa vida tenha êxito. O próprio S. Tomás cita Aristóteles onde ele acreditava que a prudência constitui a condição prévia para todas as virtudes, como que guia das virtudes, “uma regra e a medida certa da ação”.
É a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência, ordenando a conduta do homem segundo este juízo com a finalidade de praticar o bem e evitar o mal.
Quem é prudente consegue enxergar além da situação atual e avaliar-se uma determinada ação, realmente a prudência constitui um caminho para realizarmos um determinado objetivo.
Jesus tece elogios ao homem prudente que construiu a casa sobre a rocha. Elogia até a prudência de um administrador infiel e injusto. Faz um paralelo entre as virgens tolas e as prudentes. Jesus usa a prudência como medida para quem pretende se dedicar a um empreendimento. Em fim, a prudência é a atitude que torna o homem inteligente e faz sua vida ter êxito.
A pessoa prudente não pensa apenas com o intelecto, e sim com o coração. Quem a ela descobre, descobre também o caminho para o sucesso de ter uma vida plena de realizações boas.
A próxima virtude que vamos estudar será a FORTALEZA.

Deus abençoe você!

Com carinho Marcelo Pereira

Justiça, primeira virtude Cardeal

A primeira virtude que vamos tocar é a justiça. Platão afirmava que a justiça é a virtude daquele que estabeleceu o equilíbrio entre o espírito (mous), honra pessoal (thymos) e desejo (epithynia) que imprime assim uma característica da alma.
O Catecismo da Igreja Católica define a justiça como a virtude que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que Lhe é devido.
São Duas referências. Ser justo para com Deus e ser justo para com o próximo. Um não pode ser menos que a outra, pois as duas andam juntas. A virtude está na pessoa, seja com Deus ou com o próximo a atitude é a mesma. Uma pessoa justa é aquela que faz jus ao seu próprio ser.
Na idade Média, a justiça sempre foi representada por uma mulher segurando uma balança e uma espada na mão. Seus olhos se encontram vedados, para que nenhuma inverdade lhe a cegue, mas ao contrário, toma suas decisões sem olhar para a pessoa. Considera tanto o assunto como também o ser humano com todas as suas particularidades.
Um exemplo típico que define uma pessoa justa é a do Rei Salomão em I Reis 3,16-22 que se vê como juiz entre duas mães que brigavam pela maternidade de um filho onde as duas diziam ser a mãe da criança. O Rei Salomão usou de muita sabedoria e julgou com justiça ao intuir o que era correto fazer naquele momento. Salomão levou em consideração não apenas a pessoa, mas também o assunto e agiu com clareza e de forma certa para descobrir a verdadeira mãe.
A justiça ajuda-nos a desmascarar a tendência do pecado original nos devolvendo ao estado de santidade e de justiça original. Cat 375
Sem justiça não há harmonia entre a alma e o corpo, entre o homem e a mulher, entre a criação e o Criador.
Aqui no Brasil se fala muito em justiça, justamente por que aqui a corrupção é que predomina as muitas classes sociais e políticas. O homem tem sede e fome de justiça, mas deve ele saber que a justiça não é dada e nem comprada, ela é uma característica da alma, uma marca original impressa pelo Criador no caráter de cada pessoa, como uma bússola que guia a suas ações, como fonte clara que fertiliza tudo o que ela realiza.
Maria é uma mulher extremamente justa. Embora ela não levasse o mesmo título de seu esposo S. José, como homem justo, mas Maria demonstrou tanto quanto ele que sua alma tinha essa característica sim, mas que vinha pela sua Imaculada Conceição, sem a mancha do pecado original, sem o risco de perder sua santidade e sua justiça original.
Só isso já faria de Maria uma mulher completamente justa, mas ela foi além, sem usar de nenhum pretexto sobrenatural, ela agiu de forma justa diante de Deus, mas sobre tudo diante dos homens.
Maria é para nós um modelo seguro de justiça, ela é Imaculada e se manteve em estado de justiça original durante toda a sua vida.
Peçamos a ela que nos ensine a viver justamente, a fim de que também nós alcancemos a santidade original. Que assim seja!

A próxima virtude será a “prudência”, fique atento...

Marcelo Pereira

Fortaleza, terceira virtude Cardinais

A virtude da fortaleza é conhecida também como a virtude da “coragem” que em alemão se lê “Tapfer”, que significa; firmeza, pesado, militante, audaz, efusivo.

A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem, e pode nos tornar capazes de vencer todo o medo, inclusivo o medo da morte. Cat 1808

A pessoa corajosa é aquela que assume a si mesma e que persegui de modo conseqüente aquilo que reconhecemos como certo. Quem é corajoso não muda de opinião em função dos seus conflitos. Quem é corajoso não se deixa derrubar facilmente, ele está enraizado e transmite estabilidade.

Eu gosto muito de uma definição que Dom Serafim, Bispo Emérito do Santuário de Fátima em Portugal, que por muitas vezes eu o escutei ele explicar o significado da palavra coragem.

Segundo ele, a palavra “coragem”, vem da junção das duas palavras; (coração+agir) que unidas significa coração que age, ou agir com o coração. Eu achei lindo e profundo esta explicação e nunca mais esqueci, pois não se trata apenas de uma coragem externa, superficial, mas representa uma coragem que vem de dentro do coração e que é capaz de enfrentar qualquer medo ou desafio.

A pessoa corajosa dispõe de uma fortaleza comparada a de um grande exercito. Quem era Davi diante daquele enorme Golias, ele era apenas uma criança, mas dispunha de uma coragem equivalente a de um guerreiro e assim ele venceu o terrível Golias pela sua audácia.

Audácia tem a ver com o saber e sabedoria. A pessoa corajosa não entra simplesmente em uma briga, primeiramente, ela torna-se ciente e sábia naquele momento, refletindo quais são de fato as suas condições, os seus limites, e só então decide avançar na luta munida de uma coragem que não está pautada na força física e nem mesmo nas armas, mas sim da força interior, a força do coração.

A pessoa sabia não é guiada por princípios abstratos e superficiais, e sim pelo seu coração.

Coragem também tem a ver com “resistir”, e daí vinha à motivação do Bispo de Fátima, pois sempre que ele nos via desesperados ou desmotivados diante dos grandes desafios que vivemos por lá nos inícios da missão Canção Nova em Portugal, Dom Serafim vinha como um pai nos recordar a virtude da coragem dizendo; “tenham coragem”, muito similar a uma frase bem conhecida do nosso querido fundador Monsenhor Jonas Abib, que por muitas vezes nos chacoalhava em suas pregações nos dizendo; “tenham coragem meus filhos!”.

Diante da dor e dos sofrimentos da vida, podemos agir com coragem. Diante das tribulações e da morte podemos dizer, “coragem”, pois “no mundo teremos tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” João 16,33

Lembre-se que a fortaleza ou a coragem, é uma virtude que recebemos de Deus como graça e fonte de força para a nossa alma, mas é também uma atitude que conquistamos a medida que trabalhamos na construção da imagem que Deus escolheu para nós.

No próximo artigo vamos estudar a virtude da medida certa, que é a “temperança”.

Deus abençoe você

Com carinho Marcelo Pereira