terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

“Sofrimento” e a espiritualidade de Fátima

Como eu disse no último post sobre este tema, que eu gostaria de me aprofundar neste tema da “Espiritualidade do sofrimento”, e hoje quero focar nossa reflexão sob o ponto de vista da espiritualidade de Fátima.

No ano de 1917, Maria aparece aos três Pastorinhos e lhes faz este convite: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?” (Memórias da Ir. Lúcia)

Observe que se trata de uma pergunta de Nossa Senhora, a que os Pastorinhos responderam que “Sim, queremos!” Desde então, as três crianças começaram a trilhar por um caminho de sofrimento, que os acompanharam até o fim da vida.

Então veja, neste pedido de Nossa Senhora, o “sofrimento” aparece como objeto principal da oferta a Deus. Deus poderia ter pedido outras coisas, mas Ele escolheu pedir-nos o sofrimento. E por quê? Certamente, penso eu, pelo fato do sofrimento ser algo que todo mundo tem, então todos poderiam ofertar a Deus, já que o sofrimento faz parte do nosso cotidiano, em qualquer gênero e em qualquer época da nossa vida.

O “sim” dos Pastorinhos não foi uma resposta inconsciente, mesmo sabendo que eram três crianças pobres e analfabetas, desprovidas de qualquer conhecimento intelectual ou espiritual, mas a respeito do pedido de Nossa Senhora, eles entenderam exatamente do que se tratava. Com o decorrer do tempo vamos percebendo isso nas atitudes dos Pastorinhos, eles demonstraram na prática que a oferta que eles ofereciam a Deus, correspondia exatamente ao sim que eles haviam dado segundo os desígnios que foram se revelando no decorrer da história. Acredito que somente em um coração pobre e simples como o foi dos Pastorinhos, que seja possível corresponder a uma missão tão grande.

Vamos visualizar melhor o testemunho dos Pastorinhos nos próximos posts, mas é importante ressaltar já agora, que os Pastorinhos de Fátima desenvolveram dois meios de oferecer a Deus seus sofrimentos que vamos chamar de “duas vias de sofrimentos”, mas com virtude de santidade.

A primeira via são os sofrimentos que eu ofereço a Deus, através das práticas de piedade, “sacrifícios e penitências”. E a segunda via, são os sofrimentos que Deus nos envia como um mistério de dor, porém com resultado de graças. Sobre isso veremos mais adiante, porém o mais importante aqui é perceber que os Pastorinhos assumiram uma forma de espiritualidade a partir do sofrimento e que esta espiritualidade tem virtudes de santidade, ou seja, é uma via que pode nos levar para o Céu.

Este é um ponto importante que precisa ficar claro nesta reflexão. Mas há um outro ponto que me chama muito a atenção no pedido de Nossa Senhora, é que ela direciona o seu pedido na primeira pessoa. “Quereis oferecer-vos a Deus…”. Trata-se de oferecer a si próprios a Deus, não é apenas o sofrimento por sofrimento, Deus pede a oferta de nossa própria vida que muitas vezes também é um grande sofrimento. E para dar-nos aos outros, muitas vezes precisamos morrer para nós mesmos, para nossas vontades, para nossos sonhos, por causa de um sonho ou de uma causa maior.

Vejo um segredo muito particular nesta oferta pessoal, pois muitas vezes sofremos por situações que não diz respeito a nossa própria pessoa. Por exemplo; podemos estar sofrendo por alguém que está muito doente e sente muita dor, e o nosso sofrimento aqui consiste no fato de sofrermos por ver a dor e o sofrimento do outro, principalmente se este alguém é muito próximo, íntimo ou da família, quanto mais íntimo, maior pode ser o nosso sofrimento. Bem, este tipo de oferta poderia não nos custar tanto quanto se tal enfermidade estivesse em nosso corpo. Aqui neste caso, oferecer a Deus a nós próprios vai muito além do tipo de sofrimento que nos aflige, e é aí que reside o segredo da oferta. Não conseguimos oferecer a Deus algo se antes não tivermos dado a Ele nossa vida primeiro, principalmente quando damos algo abstrato como é o sofrimento. Não se trata de uma oferta material com por exemplo, ofertar dinheiro, carro, jóias etc… Se trata de ofertar a própria vida, pois ninguém ofertária carro, dinheiro , casa etc, sem antes já o ter se ofertado a Deus. Este é o primeiro passo para conseguirmos oferecer a Deus nossos sofrimentos. Sem esta oferta e este abandono da nossa vida nas mãos de Deus, seria como que ofertar a Deus de mãos vazias.

Quero voltar neste assunto no próximo artigo, mas por hoje vamos ficar com estes dois pontos.

Primeiro entender que os Pastorinhos assumiram os seus sofrimento como forma de espiritualidade, por isso insisto no tema “espiritualidade do sofrimento”.

E o segundo ponto que acabamos de refletir, consiste em oferecer a Deus a nós próprios como princípio de toda oferta a Deus. Através dela adquirimos confiança de oferecer todas as outras coisas a Deus, seja por iniciativa própria, ou por iniciativa de Deus.

Peço a Virgem Santíssima que continue nos conduzindo ao verdadeiro sentido do sofrimento humano, e que a espiritualidade do sofrimento possa chegar ao nosso entendimento de forma que também nós possamos por meio dela alcançar a santidade.

Com carinho Marcelo Pereira